HELTON RIBEIRO
Colaboração para Folha Online
Dos anos 30 ao começo dos 40, só se ouvia jazz nas rádios americanas; os jovens dançavam entusiasticamente ao som das big bands, em casas com capacidade para milhares de pessoas. A era do swing enlouquecia a América, e Benny Goodman era o “bandleader” mais popular.
Filho de imigrantes russos, ele foi um dos primeiros clarinetistas de jazz com formação clássica. Depois de passar por algumas big bands, formou a sua em 34. Ela logo se transformou em uma usina de hits: em duas décadas, teve 164 músicas nas paradas. “Sing, Sing, Sing”, “Blue Skies”, “King Porter Stomp”, “Moonglow”, “Sometimes I’m Happy” e “Bugle Call Rag” foram apenas algumas.
Em 35, ele deu uma guinada, iniciando uma carreira paralela à frente de pequenos grupos extraídos da orquestra: a princípio, um trio com o pianista Teddy Wilson e o baterista Gene Krupa; depois um quarteto e um sexteto. Vêm daí suas melhores gravações, como “Body and Soul” e “Soft Winds”.
Em 50 foi lançada a gravação de um histórico concerto realizado em 38 no Carnegie Hall. Esse foi o LP mais vendido do jazz até então.
Mesmo o advento do rock n’roll, que jogou a pá de cal na era do swing (já enfraquecida pelo bebop) não impediu que ele continuasse com a big band, excursionando pelo mundo até o final dos anos 70. Em 13 de junho de 86, Goodman morreu de ataque cardíaco em Nova York.
Contexto histórico
Para que o jazz se convertesse na música popular americana, era necessário que ele fosse branco. Sem demérito ao grande talento de Goodman, alguns chegaram a apontar que, se havia um rei do Swing, o cetro deveria pertencer ao baterista e também bandleader Chick Webb. Mas a América racista da época não podia coroar um negro.
Assim, Benny Goodman tinha tudo para receber o título: era excelente músico e bandleader, e contava com os melhores arranjadores e músicos. Não por acaso, muitos eram negros. Praticamente todas as orquestras, mesmo as inteiramente brancas, encomendavam arranjos a negros. Mas Goodman soube ser grato e foi o primeiro a formar uma big band mista.
Quando ele pinçou da orquestra o trio para shows mais intimistas, muitos o aconselharam a substituir o pianista Teddy Wilson por um branco, receosos de que o destaque dado a ele poderia fazer naufragar o projeto. Goodman foi firme na decisão e não se arrependeu. As gravações de seus pequenos grupos com Wilson e outros (Charlie Christian, Lionel Hampton) entraram para a história como as melhores contribuições do bandleader ao jazz.
Curiosidades
Colaboração para Folha Online
- Billie e Bessie Antes da fama, Goodman tocou na última gravação da “imperatriz do blues”, Bessie Smith (“Gimme a Pigfoot”), e na primeira de Billie Holiday (“Your Mother’s Son-in-Law”), ambas em 33.
- NocauteA big band de Goodman foi à lona em uma rumorosa “Battle of the bands” contra Chick Webb, promovida pelo famoso Savoy Ballroom (imortalizado no standard “Stompin’ at the Savoy”, de Webb). “Nunca apanhei de alguém que fosse tão forte”, admitiu Gene Krupa, baterista de Goodman. Vinte mil pessoas dançaram ao som das duas bandas, mas preferiram a de Webb.
- Concorrência amigávelOutro forte concorrente de Goodman, Count Basie, apresentou-se algumas vezes como convidado da orquestra do clarinetista. Uma dessas ocasiões foi no Carnegie Hall, em 38. Duke Ellington, também convidado, declinou.
- Gênio de cãoA fama de Goodman entre os colegas não era nada boa. Músicos que trabalharam com ele reclamavam de seu gênio difícil. A cantora Helen Forrest (que gravou com ele o sucesso “Taking a Chance on Love”, de 43) afirmou nunca ter conhecido alguém tão intratável. Um jornalista chegou a relatar assim sua morte: “A boa notícia é que ele morreu. A má é que não sofreu”.
Sites relacionados
- www.bennygoodman.com – o site oficial tem farta biografia, citações, fotos, discografia parcial, cronologia dos fatos mais importantes de sua vida e links para sites não muito úteis.
- www.redhotjazz.com – o site tem samples de algumas músicas para ouvir, além de uma pequena biografia.
- www.pbs.org – o site da rede de televisão PBS reproduz a biografia feita pela Grove, uma das melhores enciclopédias de jazz. Tem duas músicas e comentário de um crítico para ouvir.
A matéria acima foi publicada na Folha. Acesse aqui, leia o original e compre a coleção, é imperdível.