Keith Jarrett

Publicado: 10/05/2007 em Jazz, Keith Jarrett

Keith JarrettKeith Jarrett é um indiscutível mestre do piano jazzístico contemporâneo. Grosso modo, poderíamos situar os pianistas surgidos no jazz a partir do anos 60 num espectro que tem num dos pólos Keith Jarrett, e no outro, Chick Corea.

Menino prodígio musical, Jarrett começou a tocar piano aos três anos de idade; fez um recital aos sete anos; e já era músico profissional ainda adolescente. Em 1962 entrou para a Berklee School of Music e logo estava liderando seu próprio grupo. Em 1965 mudou-se para Nova Iorque. Passou alguns meses com os Jazz Messengers de Art Blakey e depois ficou de 1966 a 1969 com o Charles Lloyd Quartet. Tocou entre 1969 e 1971 com Miles Davis, no histórico grupo que fundou o jazz-rock (em 1969, dividia a cena com Corea), e após esse período lançou-se definitivamente na carreira solo.

Jarrett passou quase toda a carreira gravando para o selo ECM, do qual é muito provavelmente a estrela máxima. O resultado é uma volumosa obra discográfica. Em 1983, já consagrado, formou, com o contrabaixista Gary Peacock e o baterista Jack DeJohnette, um trio para a gravação dos dois volumes de Standards (o segundo volume saiu em 1985), grupo esse que se mantém ativo até hoje. O Jarrett Standards Trio, como é informalmente conhecido, veio a se tornar efetivamente um ponto de referência dentro da música contemporânea de câmara.

Jarrett tem preferência por tocar como solista ou em pequenas formações. Ao contrário de Chick Corea, nunca abandona o som acústico, desde que deixou o grupo de Miles Davis em 1971. Realizou até mesmo incursões ao órgão de tubos (por exemplo em Hymns / Spheres). Sente-se também perfeitamente à vontade realizando sistematicamente apresentações e gravações como solista clássico, tocando Bach e Mozart, entre outros.

Jarrett possui uma maneira de tocar muito pessoal. Não é um interprete conciso: ao contrário, é dado a longas digressões, e muitas de suas peças são improvisos livres, mesclando trechos de caráter quase erudito (particularmente pseudo-barroco ou pseudo-clássico) com outros de sabor minimalista e com passagens decididamente jazzísticas. Ocasionalmente, faz citações de outros temas. O fato de Jarrett propor várias de suas execuções como improvisos livres tem um lado simpático, na medida em que cada peça é única, não só na “interpretação” (o que, de resto, ocorre com todo o jazz) mas na própria concepção da peça, que acaba sendo resultado irrepetível de um lugar, um momento e uma platéia específica. Por outro lado, porém, essa abordagem provoca, em alguns casos, um certo descuido com a forma: as peças resultam prolixas, às vezes repetitivas, estendem-se mais do que seria desejável.

Na música de Jarrett podemos encontrar alguns elementos característicos. Primeiro, ele tem atração pelos ostinatos em andamento moderado, que estabelecem um clima hipnótico. Segundo, principalmente nos trechos lentos, procura deixar soar os acordes, valorizando suas ressonâncias. Terceiro, Jarrett gosta de explorar os desdobramentos de melodias simples, líricas e cantantes. Quarto, nas peças rápidas, as frases entrecortadas emitidas no calor do improviso não costumam ser tocadas pela mão direita na região aguda do teclado, como seria usual, mas sim na região média.

Porém o aspecto mais importante da música jarrettiana talvez não esteja nas características do seu “estilo” de tocar, que acabamos de mencionar, ou de sua técnica pianística, mas sim no seu pensamento musical – no plano cognitivo, por assim dizer. Refiro-me a um aspecto em particular: Jarrett é um mestre do understatement: o que ele deixa de tocar, o que ele apenas sugere assume, talvez, importância tão grande quanto o que ele efetivamente toca. Isso fica especialmente claro quando ele interpreta standards. É como se ele nos levasse a imaginar, dentro de um espaço “dual” ao espaço sonoro no qual se dá o discurso musical propriamente dito, as notas subentendidas, as frases não articuladas, os caminhos não tomados.

As interpretações de Jarrett são temperadas por leves excentricidades cênicas. Ele tem, por exemplo, o costume de murmurar ou cantarolar enquanto toca, a exemplo do que fazia o notável pianista clássico Glenn Gould. Ocasionalmente, também se levanta da banqueta para tocar de pé, etc. No entanto, assim como ocorria com Gould, tais excentricidades ficam em segundo plano, nunca chegando a ofuscar o compromisso total de Jarrett com a música.

Exte excelente texto foi extraído do magnífico site EJazz, clique aqui para visitar.

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