Arquivo da categoria ‘Chet Baker’

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O Jo Soares, além de ser um dos maiores humoristas deste planeta, escritor de sucesso, apresentador impagavel, e músico fantástico – devo ter esquecido de muitas outras coisas – é sem dúvida um profundo conhecedor de Jazz. Por isso, eu “peguei emprestado” do site do Jô este texto abaixo.

O jazz foi criado pelos negros no início do século, no delta do Mississippi e em New Orleans.

A música de jazz tem três características principais:

  • O swing. Balanço. Maneira de tocar.
  • O improviso, ou individuação.
  • Solos improvisados que se seguem ao tema.

A comunicação, ou função de ritual, herdada das reuniões de igreja, onde a participação da platéia é fundamental.

O jazz surge primeiro em jam sessions, onde músicos e platéias se integram. Músicos que vem para solar de improviso seus instrumentos e uma platéia que participa batendo os pés e as mãos. Os músicos de jazz inclusive encorajam a participação da platéia.

Origem

A música do jazz tem suas origens nos cantos dos escravos, usados em cerimônias tribais, religiosas, antes da caça, no nascimento de crianças, enfim, tudo era festejado com música cantada e com um instrumento fundamental: o tambor.

Durante a escravatura e o mercado de escravos, os negros eram inclusive encorajados a cantar. Os mercadores e donos de escravos achavam que a música e a dança deixavam os negros em melhor forma. Alguns fazendeiros, no entanto, proibiam o uso de tambores, porque achavam que eles podiam ser usados como meio de mandar mensagens numa revolta generalizada.

Do encontro do ritmo e canções africanas, da África Ocidental, e a música dos americanos de origem européia, como as marchas, surgiram os spirituals, o blues e o ragtime. O ragtime está na origem do jazz. O ritmo era diferente, parecia-se mais com o ritmo das marchas. As primeiras bandas de jazz, como as de King Oliver e Buddy Bolden, tocavam ragtime. O primeiro, ou um dos primeiros a mudar a batida para 4/4 em vez do 2/4, foi Jelly Roll Morton.

Do blues, o jazz pegou a chamada “blue note”, que é aquela nota semitonada, que dá a característica melancólica do blues. Antes de ser chamado de jazz, com dois “z” ou jass, com dois “s”, como era no início, a maneira diferente de tocar e dividir o ragtime, era simplesmente chamada de “hot”, quente.

Tocar “hot”, ou tocar quente, era tocar jazz, pela sua característica de comunicação com a platéia, que era fundamental: o jazz, desde cedo, era visto como espetáculo. Seguia assim a tradição dos minstrels do ragtime, artistas negros, que se apresentavam em teatros e feiras e que, por incrível que pareça, apesar de negros, pintavam o rosto de preto.

A música de jazz propriamente dita, surgiu mais precisamente em New Orleans, na chamada “zona”. Era nos bordéis, que tinham música ao vivo na época, não me perguntem pra quê, que os músicos desenvolveram a maneira “hot” de tocar. No caso do blues, por exemplo, vários deles têm como tema histórias acontecidas entre as prostitutas e seus cafetões. O blues “St. James Infirmary” conta a história de um cafetão que vai ao hospital e encontra a sua “mina” morta. Ele, então, faz uma série de elogios à capacidade profissional da sua mulher.

Nesse bordéis é que tocavam gênios da música negra como Jelly Roll Morton, Sidney Bechet e Louis Armstrong. Armstrong aprendeu a tocar para entrar na banda de uma escola correcional onde ele foi parar por ter dado um tiro na rua. Como a vida do pessoal da banda era mais fácil, ele tratou de entrar logo para ela.

Lá aprendeu a tocar com um defeito de postura que depois lhe valeu um calo na boca. Às vezes, ele mesmo aparava este calo com uma gilete. Imaginem o perigo! O calo era tratado com uma pomada feita especialmente para ele por um médico particular. Armstrong se formou depois tocando nos bordéis da zona de New Orleans. Tinha um certo fascínio pelas prostitutas: chegou a ser casado com uma.

Quem teve grande influência na parte de harmonia no jazz em sua fase de formação foram os músicos crioulos. Que não eram os nossos crioulos. Creole, era como chamavam os mestiços dos negros com os colonizadores franceses.

As primeiras formações tradicionais de banda de jazz eram compostas de corneta, clarineta, trombone, banjo ou guitarra, contrabaixo, bateria e piano. Sendo que muitas bandas não tinham nem piano nem contrabaixo. O baixo era marcado pelo bumbo do baterista. O cornetista era sempre o principal solista do conjunto.

No começo a banda evoluía em torno dos solos do cornetista. Em 1910, o jazz já era ouvido com interesse e tocado por músicos brancos e, a partir de 1920, passou a ter uma grande penetração entre as platéias brancas. Aliás, foi a partir de 1920 que o jazz passou a ser uma música mais “respeitável”.

Depois da Primeira Guerra Mundial, os brancos americanos descobriram um novo estilo de vida e, nessa época, começa a se firmar a indústria do show business no cinema, no teatro, nos shows e na música. Há também uma grande emigração negra para as grandes cidades como Chicago e Nova York: público negro, formado por gente que ia para as grandes cidades em busca de melhores empregos e músicos negros que iam em busca do dinheiro daqueles que iam para as grandes cidades em busca de melhores empregos.

A partir de 1920, o jazz também viaja pelo mundo. Orquestras vão para a Europa e excursionam pela América do Sul. É quando desembarca no Brasil o saxofonista Booker Pittman, pai da Eliana Pittman, que acaba ficando no Paraná. Também não me perguntem por quê.

Da mesma forma, muitos bluzeiros saem do delta do Mississippi para Chicago nesta mesma época. O jazz é visto como o centro destas mudanças na sociedade americana, desta liberalização, tanto que os anos 20, ou roaring twenties, ficam sendo conhecidos como “a era do jazz”.

Outro fato que contribuiu muito, por tabela, para o desenvolvimento do jazz, foi a lei seca de 1920, lei que proibia a venda e o consumo de bebidas alcoólicas. A grande maioria dos americanos era contra a lei seca simplesmente porque queriam beber, mas os intelectuais e artistas viam a lei como um resíduo terrível da Era Vitoriana, inteiramente contra os ideais liberais dos novos tempos.

Esta “nova era” implicava também em mudanças culturais e sociais por parte da vanguarda intelectual, e durante esse período surgiu um enorme interesse pelos negros e especialmente pelos espetáculos negros. Convém lembrar que, na época, a música de jazz ainda não era considerada pela maioria como uma forma de arte. Os speakeasies, cabarés onde se vendiam as bebidas ilegais, eram tidos como românticos e a música de jazz a ideal para esses cabarés.

Na época, só os artistas e intelectuais é que sacaram a imensa contribuição artística e cultural da nova música dos negros. Outro fenômeno muito forte para o desenvolvimento do jazz nessa época foi a dança, que até o século passado era uma complicação: na maior parte quadrilhas e danças de conjunto. Agora não. A dança era realizada por duplas, por casais. Como a dança moderna incluía o contato quase sexual dos corpos dos pares, é claro que a moda pegou. Houve uma onda de enormes salas de dança e de cabarés.

Como o jazz dava vontade de dançar, era uma música que sacudia com as pessoas, o mercado para bandas de jazz era grande. Além de tudo, para os jovens do pós-guerra, o jazz era um símbolo de rebelião contra a velha moralidade. Este é outro dado fundamental: para a maioria dos jazzistas, o verdadeiro jazz tem que dar vontade de dançar.

A popularização do jazz nessa época também se deve ao desenvolvimento da indústria de discos, que a partir dos anos 20 eram produtos obrigatórios nos lares americanos. Os discos permitiam que as pessoas dançassem sem sair de casa.

Já se viu, então, que foi a partir de 1920 que o jazz viajou para as grandes cidades americanas. Primeiro, Chicago, onde a política e a administração eram dominadas pelas gangues que operavam na venda ilegal de bebidas. A banda de King Oliver trouxe Louis Armstrong de New Orleans, que chegou a tocar em vários cabarés ou speakeasies de Al Capone.

Como Louis Armstrong se destacava muito na banda de King Oliver, também trompetista, acabou tendo que ir para Nova York e, graças aos seus fantásticos dons de showman, tocando e cantando, acabou contribuindo de uma forma importantíssima e definitiva para o desenvolvimento do jazz. Aliás, dois nomes se destacam nesta época como vanguardeiros e responsáveis pela popularização do jazz. Os dois são trompetistas: Louis Armstrong e Bix Beiderbecke.

Bix Beiderbecke, o primeiro grande trompetista branco de jazz e Louis Armstrong, integrando a banda de Fletcher Henderson em Nova York. Fletcher Henderson não era um músico extraordinário, mas teve o grande mérito de se cercar dos melhores músicos e arranjadores de jazz. Mais tarde, Bix Beiderbecke participou da banda de Paul Whiteman, que era muito mais uma orquestra de dança do que de jazz. Como na época não se sabia muito bem o que era jazz, Paul Whiteman acabou conhecido como o “rei do jazz”, título que foi dado a ele por ele mesmo.

A importância do Paul Whiteman é que ele e a sua banda foram os primeiros a venderem 3.500.000 discos, com a música “Three O’Clock In The Morning.” Para se ter uma idéia do que era vender 3.500.000 cópias naquela época, basta dizer que no país inteiro só existiam 3.500.000 vitrolas. Quer dizer, foi vendido um disco para cada vitrola existente no país.

A partir desta época, já beirando os anos 30, e por causa das orquestras de Fletcher Henderson e de Paul Whiteman é que começa a surgir o jazz sinfônico, precursor da era das grandes bandas. Grandes orquestras de jazz começam a surgir nesse momento, como as de Duke Elligton e de Ben Pollack. Em Chicago, o blues urbano começava a se desenvolver com os grandes bluzeiros do delta do Mississippi. O jazz e o blues sempre caminhando juntos.

Aliás, para muitos, jazz e blues são a mesma coisa. Não são. São irmãos. Digamos que todo jazzeiro toca blues mas nem todo bluzeiro toca jazz. Ou vice-versa. Billie Holiday, uma das maiores cantoras de todos os tempos dizia que era muito mais uma cantora de jazz do que uma cantora de blues. O blues, que nunca sai da moda, mesmo quando transformado em rhythm and blues, guarda um lado mitológico que traz do delta do Mississippi. Ainda hoje, quando um guitarrista ou gaitista é excelente, dizem que ele vendeu a alma ao diabo. Falavam isso nos anos 30, do guitarrista, compositor e cantor Robert Johnson, que morreu envenenado por um marido ciumento aos 27 anos de idade.

O blues também não tem fronteiras. No Brasil temos grupos de blues como o Blues Etílicos e solistas e compositores como o bluzeiro André Cristovam, bluzeiro para ninguém do Mississippi botar defeito.

A partir de 1935, começaram a surgir as grandes bandas da era do swing. A primeira e mais importante orquestra foi a de Benny Goodman. Inclusive por ser a primeira banda composta por músicos brancos e negros. Era a primeira orquestra integrada, o que na época era uma atitude muito corajosa e inovadora. Até então, as orquestras eram só de negros ou só de brancos.

Outras orquestras importantes da época foram as de Count Basie, Tommy Dorsey, Duke Ellington e Glenn Miller. É preciso dizer que a orquestra de Glenn Miller e a de Tommy Dorsey, uma das mais populares da época, não era tipicamente de jazz. Eram orquestras de baile, que tocavam principalmente todo o repertório popular da época mas com uma maneira jazística de tocar. Por isso mesmo, várias composições dessas bandas acabaram se tornando hits populares de jazz.

Uma data muito importante e definitiva deste período: 16 de janeiro de 1938. Nesse dia houve o primeiro grande concerto de jazz no teatro Carnegie Hall em Nova York. Benny Goodman e músicos das orquestras de Duke Ellington e de Count Basie. Nesses anos áureos do jazz, os chefes de orquestra tinham a mesma popularidade dos astros de cinema e chegaram a participar de filmes importantes da época.

A partir dos anos 30, o jazz já tinha uma platéia branca enorme. Acontecia inclusive um fenômeno terrível. Os negros tocavam e trabalhavam em lugares como o Cotton Club, para platéias brancas, no Harlem, mas os negros eram proibidos de freqüentar o lugar como público. Uma vez, Louis Armstrong, já famoso, teve que ficar escondido na coxia do Cotton Club para assistir à banda do Duke Ellington.

No Cotton Club, surgiu também um grande showman do jazz. Cab Calloway. Cantor, bailarino e chefe de orquestra. Dava um show formidável, fazendo a platéia participar do espetáculo. O jazz influenciava também os grandes compositores americanos como Gershwin, que chegou a escrever uma ópera negra: “Porgy and Bess”, de grande sucesso.

Cab Calloway participou de uma das montagens vivendo o papel de “Sporting Life,” um cafetão de Nova York que vai ao sul em busca de mulheres. Dos vários temas imortais desta ópera, vale lembrar “Summertime” e “It Ain’t Necessarily So”. O jazz, cada vez mais, se transformava em espetáculo e aí se percebe também uma outra faceta importante:

O humor no jazz

As apresentações de Louis Armstrong tinham um lado forte de humor. Assim como as apresentações de Lionel Hampton e Cab Calloway, mas o grande artista e criador no gênero foi Slim Gaillard. Formou com Slam Stewart a dupla “Slim and Slam”, e depois com Bam Brown, “Slim and Bam”.

Slim Gaillard era cantor, guitarrista, pianista, percussionista e compositor. Slim inventou uma maneira especial de falar, o vout. Uma língua louca. Participou do primeiro filme de humor nonsense americano: “Hellzapoppin”. Era um artista completo e irreverente. Ele transformava tudo em jazz: menu de restaurante árabe, cacarejar de galinhas, latidos etc. Slim Gaillard e Slam Stewart participaram também do nascimento de outro período do jazz nos anos 40:

O bebop

O bebop, ou bop, era um estilo mais rápido de tocar, com improvisos em escalas mais altas dos instrumentos e tem, entre os seus criadores, dois dos maiores músicos de jazz de todos os tempos: Charlie Parker, também conhecido como “The Bird” e Dizzy Gillespie. O bebop se desenvolveu depois da Segunda Guerra Mundial e teve o seu apogeu nos anos 50.

O bop marca a volta dos pequenos grupos de jazz, que tocavam nas boates de jazz da rua 52, entre a 5ª e 6ª avenida em Nova York. Uma delas passou a se chamar Birdland, em homenagem a Charlie Parker. Nesta época, se notabilizaram músicos como Lester Young, saxofonista; Roy Eldridge, trompetista; Coleman Hawkins, saxofonista; Art Tatum, pianista; e a cantora Billie Holiday.

A influência desses músicos na sociedade americana e no mundo inteiro foi enorme. Principalmente entre os jovens, que até queriam se vestir como eles. Nos anos 50, surge também um outro movimento:

O cool jazz

O cool é uma música de jazz com harmonias mais avançadas, com influências de clássicos como Stravinsky e Debussy. O cool jazz começa a se desenvolver mais entre os intérpretes brancos, com orquestras como a de Stan Kenton e de Woody Herman.

Na Califórnia, surge também um ramo do cool jazz chamado de west coast jazz. São grupos pequenos como o de Gerry Mulligan com Chet Baker. Também um sofisticadíssimo conjunto negro – o primeiro a tocar jazz de casaca – o superelaborado Modern Jazz Quartet, com o pianista John Lewis e o vibrafonista Milt Jackson. Lewis trazendo para o jazz influências da música renascentista e barroca, composições influenciadas por Johann Sebastian Bach.

Logo depois, Dave Brubeck, com o sax alto Paul Desmond. Tocado nos campus das universidades, era considerado um jazz de elite, informado. Nesta época surge também Miles Davis, outro dos grandes trompetistas de jazz.

Falando em trompetistas há que se dar um destaque especial para Chet Baker, um dos mais extraordinários trompetistas de todos os tempos, também cantor de jazz. De certa forma, pode-se dizer que Chet Baker é um inspirador da bossa nova. Depois de alcançar imenso sucesso comercial, Chet Baker acabou arruinado pelas drogas.

Durante todo esse período, fazia muito sucesso uma forma de jazz conhecida como mainstream, com intérpretes como o trompetista e cantor Roy Eldrigde, responsável pela ponte entre o swing e o bop. O mainstream, jazz supersuingado que se toca até hoje, tem características modernas sem perder o balanço da sua origem. Roy Eldridge era outro showman completo. Tinha uma personalidade impressionante e Gillespie costumava dizer que só criou um estilo próprio quando viu que não conseguia imitar Roy Eldridge.

O estilo mainstream, no fundo uma mistura de estilos, é a forma democrática que permitiu que músicos de várias correntes toquem na mesma jam session. É o gosto do improviso que nos deixa, amantes do jazz e do blues, sempre ligados nessa que é a verdadeira música clássica deste século.

Não há, em todo mundo, compositores e intérpretes dos nossos dias que não tenham sido influenciados pelo jazz, essa grande forma de arte criada pelos negros em New Orleans, logo ali, na Bourbon Street, depois da esquina.

Alguns de meus artistas e orquestras preferidos:

Orquestras
Duke Ellington, Cab Calloway, Benny Goodman, Count Basie, Stan Kenton

Trompete
Louis Armstrong, Tommy Ladnier, Roy Eldridge, Chet Baker, Miles Davis, Wynton Marsalis

Sax Tenor
Lester Young, Coleman Hawkins, John Coltrane

Sax Alto
Charlie Parker, Paul Desmond, Phil Woods

Sax Barítono
Gerry Mulligan

Bateria
Gene Krupa, Max Roach, Shelly Manne

Guitarra
Django Reinhardt, Barney Kessel

Violino
Stephane Grappelli

Piano
Teddy Wilson, Art Tatum, Thelonius Monk, Oscar Peterson, Diana Krall

Contrabaixo
Slam Stewart, Major Holley, Ron Carter, Charlie Mingus

Cantor
Louis Armstrong, Joe Williams

Cantora
Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Anita O’Day, Ernestine Anderson, Blossom Dearie, Diana Krall, Cassandra Wilson

Primeiro Multimídia
no Jazz Slim Gaillard

O que estou ouvindo no momento:

  1. Diane Schuur – “In Tribute”
  2. Helen Merrill – “Dream of You”
  3. Ernestine Anderson – “Blues, Dues & Love News”
  4. Diana Krall – “When I Look in Your Eyes”
  5. Chet Baker – “My Funny Valentine”
  6. Slim Gaillard – “Opera in Vout”
  7. Roy Eldridge – “Happy Time”
  8. Clifford Brown – “Jazz ‘Round Midnight”
  9. Stephane Grappelli – “Fine and Dandy”
  10. John Pizzarelli – “Meet the Beatles”

Matéria publicada no site do Jo.

Vídeos encontrados segundo a lista do Jo

Diane Schuur – Love Dance

Helen Merrill, I’m A Fool To Want You

Ernestine Anderson – I Want a Little Boy

Diana Krall – Fly me to the moon

Chet Baker Tokyo ‘ 87 – My Funny Valentine

Slim Gaillard Trio 1946

Roy Eldridge & Ella Fitzgerald

Clifford Brown on Soupy Sales TV Show

Stephane Grappelli plays Gershwin

John Pizzarelli na Korea .Desafinado

Para homenagear outro gênio brasileiro, assista o vídeo abaixo.

Chico Anysio no Jo Soares é Imperdível.

O Anjo caído

Publicado: 11/10/2007 em Chet Baker, Folha de São Paulo, Jazz

HELTON RIBEIRO
Colaboração para Folha Online

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Chet Baker foi como um anjo que desceu ao inferno. No início da carreira, encantava as mulheres pela beleza e o canto suave. Vinte anos depois, era um junkie de rosto sulcado, perseguido pela polícia. Com seu trompete romântico, foi um dos criadores do “west coast jazz”, a variante californiana do cool lançado por Miles Davis e Gerry Mulligan, e, como cantor, influenciou a bossa nova.

Chesney Henry Baker nasceu em Yale, Oklahoma, em 23 de dezembro de 1929, e se mudou com a família para a Califórnia, em 40. Na infância, começou a cantar na igreja e ganhou um trompete do pai. Aos 16 anos, alistou-se no Exército e começou a tocar em bandas militares.

Em 52, já como músico profissional, acompanhou Charlie Parker em turnê pela costa oeste. Em seguida, entrou para o seminal Gerry Mulligan Quartet, que criou o estilo “west coast”. Suas versões de ‘My Funny Valentine‘ e ‘Moonlight in Vermont‘ com Mulligan são clássicas. Dois anos depois, ele conquistou um novo público ao lançar-se como cantor, à frente do próprio quarteto.

Apesar do sucesso, sua vida ia de mal a pior, com seguidas detenções por porte de heroína. Na Itália, onde morou nos anos 60, passou mais de um ano preso. O vício deteriorou sua reputação nos Estados Unidos, embora ele ainda fosse aclamado na Europa, onde, nos anos 70 e 80, gravou alguns de seus melhores discos.

Em 13 de maio de 88, Chet teve uma morte trágica, ao cair da janela de um hotel em Amsterdã. A causa do acidente tem duas versões: suicídio ou excesso de drogas. O que dá quase no mesmo.

Contexto histórico

Dos anos 40 até, pelo menos, os 60, as drogas parecem ter sido o combustível do jazz. Charlie Parker foi a figura mais emblemática, com a carreira e a vida abreviadas pela heroína. Chet Baker teve o mesmo destino.

Viciado desde os anos 50, ele teve uma carreira errática, com períodos de inatividade devido à dependência e às prisões. Gravou discos em excesso, nem sempre de boa qualidade, devido à constante necessidade de conseguir dinheiro para comprar drogas.

Nos anos 60, além de mais de um ano preso na Itália, ele foi expulso de quatro países, até ser deportado de volta para os Estados Unidos. Em 66, foi espancado em San Francisco quando tentava comprar drogas na rua.

Teve alguns dentes quebrados, passando a usar dentadura, o que prejudicou sua embocadura (a forma de colocar os lábios no bocal do trompete).

Curiosidades

 

  • Príncipe do coolUma nova cinebiografia de Chet está sendo filmada e deve se chamar “Prince of Cool”. Josh Hartnett (“Dália Negra”, “Sin City”, “Pearl Harbor”) personifica o trompetista. Ele já foi retratado no documentário “Let’s Get Lost”, de Bruce Weber, lançado quatro meses após sua morte e indicado ao Oscar. E a ficção “Apaixonados Impetuosos (All the Fine Young Cannibals)”, de 60, foi claramente inspirada no então jovem astro. O nome do protagonista, Chad Bixby (interpretado por Robert Wagner), fazia uma dupla referência: a Chet e ao pioneiro do dixieland Bix Beiderbecke, uma de suas maiores influências. E foi desse filme que a banda pop Fine Young Cannibals tirou o nome.
  • À beira do infernoEmbora não intencionalmente, o título de um filme estrelado por Chet em 55 parecia simbolizar sua tragédia pessoal: “Horizonte do Inferno”. Ele atuou também em um filme italiano, “Urlatori alla Sbarra”, de 60.
  • Bossa novaA voz frágil e suave de Chet influenciou desde a bossa nova até Caetano Veloso. Não por acaso, ele acabou se aproximando de músicos brasileiros. Gravou com o pianista Rique Pantoja os discos “Chet Baker & The Boto Brasilian Quartet”, e “Cinema 1”. Em 85, veio ao Free Jazz Festival.
  • Sem piano e sem saxO quarteto de Gerry Mulligan com Chet Baker causou sensação por dispensar o piano, mas não resistiu à perda do sax. Formado em 52, acabou apenas 11 meses depois, quando o líder foi preso por porte de drogas.

Sites relacionados

 

  • chetbakertribute.com – site feito por um fã tem vinte samples de suas gravações, seis vídeos, biografia, discografia e uma seção curiosa, que pretende responder a “perguntas frequentes sobre Chet”: “como ele morreu?”, “é verdade que ele não sabia ler música?” etc.
  • www.jazzdisco.org – o site japonês tem uma discografia completa e detalhada, com as datas e locais das gravações e todos os músicos participantes. Inclui também os discos que ele gravou como acompanhante de outros artistas.
  • www.shout.net/~jmh/ – o site mantido por um trompetista tem biografia, discografia e, para quem é músico, transcrições de vários de seus solos.

A matéria acima foi publicada na Folha. Acesse aqui, leia o original e compre a coleção, é imperdível.

Chet Baker

Publicado: 04/05/2007 em Chet Baker, Jazz

Chet BakerChet Baker (Chesney Henry Baker Jr.) (Yale, Oklahoma, 23 de Dezembro de 1929 – Amsterdã, 13 de maio, 1988) foi um trompetista de jazz norte-americano.

Criado até os dez anos numa fazenda de Oklahoma, parte para Los Angeles no final dos anos 30, quando começa a estudar teoria musical. Chet Baker sempre foi influenciado por seu pai, guitarrista, de quem herdou a paixão pela música e de quem ganhou, aos 10 anos de idade, um trombone. Amante do Jazz, não tardou em conquistar o sucesso, sendo apontado como um dos melhores trompetistas do gênero logo em seu primeiro disco.

Ainda bem jovem, passou a integrar o grupo de renome da música americana da época. Seus primeiros trabalhos foram com a Vido Musso’s Band e com Stan Getz, porém Chet só conheceu o sucesso depois do convite de Charlie Parker (Bird) em 1951 para uma série de apresentações na costa ocidental. Em 1952 entrou para a banda de Gerry Mulligan, alcançando grande notoriedade com a primeira versão de “My Fanny Valentine”. Entretanto, em razão dos problemas de Gerry com as drogas, o quarteto não teve vida longa, sustentando-se por menos de um ano.

O talento de Chet logo o transformaria num ídolo. Apresentou-se por toda América e Europa. Especialistas dividem a vasta obra do músico em duas fases: a cool, do início da sua carreira, mais ligada ao virtuosismo jazzístico e a segunda parte, a partir de 1957, quando a sensibilidade na interpretação torna-se ainda mais evidente.

Avesso às partituras, isto não lhe impediu, entretanto, de integrar as grandes bands americanas.Baker era dotado de extrema criatividade, inaugurando um modo de cantar no qual a voz era quase sussurrada. Chet teria exercido grande influência em músicos brasileiros, como João Gilberto e Carlos Lyra, alguns dos grandes nomes da Bossa Nova. Esta versão é, contudo, bastante controvertida. Sizão Machado, numa visão chauvinista, chegou a dizer, certa feita, que a Bossa Nova é que teria influenciado os músicos americanos, e não o contrário.

Para tocar as músicas pedia apenas o tom. Econômico nas notas (ao contrário de outros tompetistas que preferiam o virtuosismo, como Dizzy Gillespie), Chet improvisava com sentimento. Certo dia, deram-lhe o tom errado de uma música de propósito, e mesmo assim Chet Baker conseguiu encontrar um caminho harmônico. Valorizava as frases melódicas com notas longas e encorpadas, o que acabou lhe valendo o rótulo de cool

No começo dos anos 60, Chet começou realizou diversas experiências com o flugelhorn, instrumento de timbre macio e aveludado.

No entanto, sua gloriosa trajetória na música não lhe rendeu uma vida segura, afastada de problemas. Por causa de seus envolvimentos com as drogas, especialmente com a heroína (durante suas crises de abstinência, que eram monitoradas por médicos, usava metadona), Chet foi preso muitas vezes. Conta-se que chegou a ser espancado por não ter pago uma dívida contraída com a compra de drogas. Este episódio teria lhe rendido a perda de vários dentes.

Para alguns especialistas, as falhas em sua arcada dentária teriam contribuído para uma inevitável piora de sua performance. Contudo, para outros, contraditoriamente, tal fato teria obrigado o músico a se enveredar por outras vertentes e nuances do instrumento, alcançando, deste modo, sonoridades ímpares e inconfundíveis.

Em 1985, Chet Baker esteve no Brasil para duas apresentações na primeira edição do Free Jazz Festival. A banda era formada pelo pianista brasileiro Rique Pantoja (com quem Chet já havia gravado um disco no início dos anos 80 – Chet Baker & The Boto Brasilian Quartet), pelo baixista Sizão Machado, pelo baterista americano Bob Wyatt e pelo flautista Nicola Stilo. A primeira apresentação, no Hotel Nacional, na cidade do Rio de Janeiro, foi considerada decepcionante, mas a apresentação em São Paulo, tida como um sucesso, quase entra para a história do Jazz pela porta dos fundos: depois do espetáculo, já em seu quarto, no Maksoud Plaza, Chet surrupiou a maleta do médico que o acompanhava e tomou doses cavalares das drogas que lhe estavam sendo administradas para controlar as crises de abstinência. Chet teve uma overdose e quase morreu.

Neste mesmo ano, iniciou com Rique Pantoja, em Roma, as gravações de Rique Pantoja & Chet Baker (WEA, Musiquim), que terminariam em São Paulo, no ano de 1987. O LP foi um sucesso de crítica.

Em maio de 1983, durante uma de suas inúmeras viagens à Holanda, produziu gravações com o pianista Michael Graillier e com o baixista italiano Ricardo Del Fra, parceiro do baterista brasileiro Afonso Vieira.

Baker morreria em Amsterdã, de forma trágica e misteriosa, na madrugada de 13 de Maio de 1988, quando despencou da janela do hotel. Até hoje resistem muitas controvérsias sobre a causa de sua partida: suicídio ou acidente?

Chet foi enterrado no “Inglewood Park Cemetery”, em Los Angeles.